Azálea do Sr. Kunio kobayashi

Viva !

Há algum tempo que não se publicava uma árvore para análise neste fórum de estéctica.

Esta árvore é imponente com os seus 82 cms de altura, tem uma ramificação magistral, tem soluções estécticas curiosas no que ao classicismo diz respeito que gostava de ver ressaltadas e abordadas pela comunidade de membros deste fórum!



Os direitos da foto são reservados á revista Bonsai Autocno donde foi digitalizada a foto.

Venham daí os vossos comentários!

Ja que ninguém inicia, eu vou dar o pontapé de saída.
Para mim é uma árvore fantástica, muito clássica no que a azáleas diz respeito, embora algumas das opções de colocação de ramos saia um pouco das convenções formais de que tanto se fala.
O nebai e o tachiagari são poderosíssimos, como é costume nestas azáleas japonesas mais antigas. O vaso é igualmente uma coisa fabulosa e nota-se um grande cuidado na colocação do vaso e do musgo, mas isso seria de esperar considerando que estamos perante o trabalho de um dos mais respeitados mestres bonsai japoneses.
A forma da azálea é em diamante, e essa é uma formação muito clássica em muitas azáleas japonesas, estando a ramificação construída para potenciar a floração, mas não deixa de ser espetacular mesmo sem as flores.
Analisando-se ao pormenor, vemos que o primeiro ramo, o sashi-eda, nasce no lado direito, vindo de trás, e surge no interior de um curvatura do tronco. É igualmente um ramo mais curto do que os superiores, o que vai contra as regras convencionais, mas é um ramo robusto, dando o peso necessário à condição de primeiro ramo. Ao mesmo tempo, existe um ramo traseiro do lado esquerdo, praticamente ao mesmo nível do primeiro. Poderiam não se encontrar aí, abrindo espaços vazios, mas se calhar o objectivo do autor teá sido o de criar uma imagem mais equilibrada e harmoniosa que penso que e atingirá a sua maior força no momento da floração da planta.
Esta harmonia é quebrada por aquele terceiro ramo da direita que sobressai, dando um movimento horizontal para a direita à planta e conferindo alguma assimetria ao conjunto.
É uma planta muito poderosa e que mostra a mestria de um grande nome do bonsai, na medida em que os pontos fracos da planta estão plenamente enquadrados no desenho e não o enfraquecem de nenhum modo.

São estas as arvores que deliciam qualquer um, bonsaista experiente, "na pré-primária" ou simples curioso.

Aquele nebari fabuloso e o terceiro ramo que se vê á direita, retorcidinho, aparentemente maior que todos os outros, a reclamar atenção, encaixa maravilhosamente no conjunto, sem ofender muito (ou nada) a linha clássica.

Em minha casa ficava que era um espanto.

Olá Pessoal,

Esta azálea está mesmo a pedir uma discussão estética que pode ser muito interessante: qual é o sashi-eda? Para mim é o terceiro ramo da direita, aquele que se prolonga mais, chama mais a atenção do observador e contribui decisivamente para o carácter dinâmico da composição. Gostava de conhecer mais opiniões.

Em minha casa ficava que era um espanto.

Luís, tenho a certeza de que na minha ficava melhor.

Abraços,
Pedro

Olá,

A não ser que isto seja um "erro fotográfico" o primeiro ramo da direita embora extremamente imponente a nivel de dimensão do ramo principal, parece-me devido à sombra que se encontra mais para trás e caso não exista um erro fotográfico que provoque aquela sombra esse certamente não será principalmente devido ao seu posicionamento. O primeiro do lado esquerdo não me parece conseguir ganhar destaque suficiente para o ser, não tem posicionamento, não tem imponência nem destaque que o torne um Sashi-Eda, por isso não restando outras opções o 3º ramo do lado direito parece-me a mim, ser o Sashi-Eda, não tendo a dimensão dos inferiores, perde na imponência mas ganha totalmente no destaque pois é o ramo mais trabalhado, totalmente ondulado para chamar toda a atenção para ele e um patamar que sai fora da linha da árvore para se assumir totalmente como "a estrela da companhia".

Agora o interessante aqui neste trabalho é que se ele tivesse sido realizado por qualquer um de nós, esta árvore seria um alvo de critica elevada por muitos utilizadores (dos mais experientes ao menos experientes), mas ao ser um trabalho de um mestre altamente conceituado, as suas opções são respeitadas ao ponto de nos fazer pensar. E isso é importante...

Com isto não quero em NADA dizer que devemos fazer as nossas próprias regras e vamos ser diferentes, num discurso "rebelde sem conhecimento" como por vezes vejo nos foruns. As regras existem para ser "cumpridas" e para as colocar como objecto de reflexão é preciso as conhecer extremamente bem e saber executar todas elas num nivel de mestria elevado, porque ser diferente só porque sim, não é nada e isso é o que acontece 98% das vezes...

Abraço,

Viva!

Quando coloquei esta árvore á discussão pensei essencialmente em alguns aspectos, que pudessem gerar discussão e alguma quebra de rotina.

Tenho que dar os parabéns ao David pois ele parece que me leu o pensamento, sinceramente, ele focou os aspectos em que pensei.

Primeiro, para mim e acho que para quem criou o termo, o Sashi Eda, nem sempre é o primeiro ramo da árvore, por vezes confunde-se o "ichi no eda" com o "sashi eda", a maior parte das vezes os dois são o mesmo ramo. Isto para falar em termos técnicos, para mim a interpretaçãso que faço de "sashi eda" é que este deverá ser o ramo primário da árvore, o que marca o ritmo e dinamismo da árvore e neste caso claramente é o ramo mais comprido situado mais acima. O primeiro ramo efctivamente sai para trás e a sua imponência a nivel de grossura e pouco comprimento tornam-o num ponto focal alternativo que se quisermos tratar por "palavrões" técnicos podes dizer a meu ver que será o "kiki eda".

Bem , no meu entender esta árvore não quebra as regras, antes pelo contrário, a construção da árvore obedece a conceitos de estéctica especificos, no fundo um pouco á semelhança das várias correntes ou escolas, nada é feito ao acaso mas sim com um propósito de despertar emoções especificas no utilizador. Nós infelizmente ainda temos uma tendência muito grande para "colar" as árvores a um dos estilos clássicos pois apesar de haver , por exemplo, alguns pinus, claramente chokkan, uma folhosa claramente moyogi, para mim a grande maioria das árvores acabam por ser um casamento de diversos estilos.

Por exemplo, poderá se considerar esta árvore um moyogi?